sociedade – Alcatrazes https://alcatrazes.com cultura e política Mon, 02 Jun 2025 20:43:23 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.1 https://alcatrazes.com/wp-content/uploads/2025/03/logo-Alcatrazes-branco-2-150x150.png sociedade – Alcatrazes https://alcatrazes.com 32 32 Arrendamento e expansão do Porto de São Sebastião https://alcatrazes.com/arrendamento-e-expansao-do-porto-de-sao-sebastiao/ https://alcatrazes.com/arrendamento-e-expansao-do-porto-de-sao-sebastiao/#respond Mon, 02 Jun 2025 20:41:24 +0000 https://alcatrazes.com/?p=279 O Porto de São Sebastião passa por um momento crítico da sua história, decisões tomadas a milhares de quilômetros definirão nosso destino como cidade e o quão benéfico ou não será seu arrendamento e expansão para nosso povo e para o desenvolvimento sustentável da nossa economia.

No dia último dia 13 março ocorreram diversas reuniões com o INFRA S/A e a comunidade portuária de São Sebastião, em uma nova rodada de informações sobre o status do processo, alterações de modelagem e coleta de posicionamento do setor local.

Nessas reuniões individualizadas com os operadores locais e com o Comitê de Desenvolvimento do Porto de São Sebastião – COMPORTO, foi informada a radical alteração inicial do projeto, no qual o arrendamento, anteriormente integrado ao porto público, com manutenção de áreas públicas, respeitando as características de competitividade e liberdade de mercado, passaria a ser regido sob a ótica e com o objetivo exclusivo de tornar a exploração do Porto de São Sebastião sob a égide de um MONOPÓLIO PRIVADO.

O MONOPÓLIO PRIVADO é a antítese do desenvolvimento econômico de qualquer setor, traz insegurança jurídica ao mercado que depende daquela atividade, torna os dependentes da atividade reféns do arbítrio econômico/financeiro de quem detém o referido MONÓPOLIO.

Esse modelo não satisfaz a sociedade com livre concorrência de mercado, não torna o setor competitivo, destrói empresas concorrentes, elimina mercados de trabalho e, no caso do setor portuário, coloca em risco todas as cadeias logísticas desenvolvidas ao longo de décadas em torno da Poligonal Comercial daquele Porto.

Essa modelagem de privatização do setor público, de um modo geral, já está sendo identificado como “FINANCEIRIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO URBANO”, que o setor portuário não tem escapado, onde se impõe a “lógica financeira” na formulação e execução de políticas públicas, tais como a atividade portuária.

Exemplos desse fenômeno não faltam no país, tais como o Porto de Vitória, no Espírito Santo, hoje “Desestatizado” e o de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, hoje sob concessão exclusiva de exploração da atividade portuária para um único player, cujas modalidades são distintas, mas com efeitos similares ao contexto portuário e com seus impactos negativos na hinterlândia comercial.

Em ambos os casos houve uma grande oscilação da movimentação de cargas, em especial  Angra, com um declínio acentuado, minguando a atividade portuária à exclusiva movimentação de cargas off-shore, com baixíssima utilização de mão de obra e redução na arrecadação fiscal, maximizando os ganhos do concessionário, ao passo que em Vitória após ajustes tarifários e dos contratos vigentes, as receitas obtiveram um salto de 39.56% para os investidores, sem que isso correspondesse ao aumento de movimentação de cargas, ao contrário, houve queda nessa movimentação.

A Prefeitura Municipal de São Sebastião e a sociedade civil organizada, bem como toda a comunidade portuária, posicionam-se CONTRA sobre o processo em andamento.

Assim, unimos forças e estamos lutando em todas as instâncias, buscando esclarecer todas as consequências que podem advir dessa abominável modelagem de gestão e exploração portuária e pra isso apresentamos números.

I – DOS IMPOSTOS ARRECADADOS:

A atividade Portuária de São Sebastião arrecadou para os cofres públicos do Município algo em torno de R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais) em 2.024 e, ao longo dos últimos dois anos e meio, o valor de R$ 111.770.535,66 (cento e onze milhões, setecentos e setenta mil, quinhentos e trinta e cinco reais e sessenta e seis centavos).
*fonte: Secretaria da Fazenda Municipal de São Sebastião.

Movimentou ao longo do ano de 2.024, em valores CIFs das suas mercadorias, a quantia de US$ 922.234.000,00 (novecentos e vinte e dois milhões, duzentos e trinta e quatro mil dólares), equivalente a R$ 5.238.289.120,00 (cinco bilhões, duzentos e trinta e oito milhões, duzentos e oitenta e nove mil e cento e vinte reais), valor aduaneiro que serve de base para a arrecadação do principal imposto do Estado, o ICMS, cuja estimativa em arrecadação desse imposto pela atividade portuária de São Sebastião alcança a quantia de R$ 942.892.041,16 (novecentos e quarenta e dois milhões, oitocentos e noventa e dois mil, quarenta e um reais e dezesseis centavos). *fonte: Companhia Docas de São Sebastião.

O equivale dizer que só em impostos estadual (ICMS) e municipal (ISS) o Porto de São Sebastião arrecada cerca de R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais).

II – DOS OPERADORES PORTUÁRIOS:

O Porto contempla cinco operadores portuários que conjuntamente somam 451 colaboradores, cuja a média salarial desses está em R$ 5.200,00 (cinco mil e duzentos reais). *fonte: Recursos Humanos das Operadoras Portuárias.

Nos últimos 3 anos os investimentos feitos por esses importantes atores do mercado portuário sebastianense, entre equipamentos e áreas de armazenagem, alcançam até aqui a cifra aproximada de R$ 389.500.000,00 (trezentos e oitenta e nove milhões e quinhentos mil reais). *fonte: Departamento Financeiro das Operadoras Portuárias.

III – DOS SINDICATOS LABORAIS:

Em São Sebastião, 6 sindicatos atuam na Orla Portuária representando mais de 250 trabalhadores que participam das atividades de movimentação das cargas no Porto, desde as áreas administrativas da Companhia Docas até os porões dos navios.

IV – DAS EMPRESAS DE APOIO PORTUÁRIO E MARÍTIMO:

São 16 agências marítimas, 9 empresas de apoio marítimo e à navegação, 2 empresas de logística, 5 empresas de armazéns gerais, 3 empresas de manutenção naval, que somando a mão de obra empregada nessas atividades alcançam 722 (setecentos e vinte e dois) colaboradores.

Somadas as diversas atividades inerentes ao setor portuário há um quantitativo de 1.423 (mil quatrocentos e vinte e três) colaboradores empregados na atividade, gerando emprego e renda ao povo de São Sebastião.

V – DA CADEIA LOGÍSTICA DO PORTO DE SÃO SEBASTIÃO

O Porto de São Sebastião possui uma hinterlândia comercial que atende à demanda de uma vasta cadeia logística para as mais diversas atividades industriais e agrícolas do Vale do Paraíba, Oeste Paulista, Sul de Minas Gerais e Sul Fluminense.

Por esse Porto nos últimos dois anos transitaram mais de 2.500.000 tons (dois milhões e quinhentos mil) atendendo a demanda de mais de 250 empresas voltadas para a Indústria vidreira, que atende à indústria automobilística e da construção civil, além das empresas voltadas ao setor cosmético dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Ao Agronegócio atende ao setor sucroalcooleiro e à Agropecuária de médio e pequenos porte, compreendendo a produção pecuária dos Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais e etc.

Enfim, o posicionamento da comunidade portuária e da prefeitura de São Sebastião é de ser contra um projeto de arrendamento e ampliação na modelagem embasada no MONOPÓLIO PRIVADO, que fará bem à poucos e será péssimo para tantos, este model aniquila da noite pro dia 5 operadores portuários, extermina 5 Recursos Humanos que têm abaixo deles aproximadamente 540 pessoas na sua folha de pagamento, põe em risco os trabalhadores portuários avulsos dos sindicatos do cais público, diminui não só as vagas de trabalho, como diminui a capacidade de ganhos dos trabalhadores que terão seus salários achatados com menor capacidade de compra e consumo no mercado interno.

Isso tudo sem mencionar os riscos reais às cargas hoje operadas no Porto de São Sebastião que poderão ser afastadas por conta do aumento indiscriminado das tarifas portuárias, tal qual ocorreu no Porto de Vitória com aumentos na ordem 900%.

Os riscos são muito altos para uma inércia da sociedade, razão pela qual a Associação Comercial de São Sebastião – ACESS abriu um site com um abaixo assinado para coleta de assinaturas de toda a região e de todos que serão afetados direta ou indiretamente.

Por fim, é sempre importante lembrarmos que o setor portuário é área limítrofe do nosso território nacional, é área fronteiriça entre o Brasil e o resto do mundo, onde se impõe o princípio da Soberania Nacional, Soberania que não nos limita, mas nos amplia, nos amplia em condições infinitas do comércio internacional, é uma janela de oportunidades para todos que a utilizam e como tal deve ser preservada como um bem público voltado ao seu povo, para geração de empregos e riquezas, jamais o inverso!!!

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Tráfico humano – uma realidade mais próxima do que se imagina https://alcatrazes.com/trafico-humano-uma-realidade-mais-proxima-do-que-se-imagina/ https://alcatrazes.com/trafico-humano-uma-realidade-mais-proxima-do-que-se-imagina/#respond Thu, 15 May 2025 18:08:38 +0000 https://alcatrazes.com/?p=273 Há 20 anos, o Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial de mulheres e crianças – internacionalmente conhecido como Protocolo de Palermo –, foi ratificado pelo Brasil. Desde então, o país tem desenvolvido importantes ações interinstitucionais com o objetivo de oferecer assistência às vítimas, penalizar os autores e prevenir a sociedade sobre esse crime. No entanto, ainda é comum que a população reaja com incredulidade diante da informação de que, em pleno século XXI, pessoas continuem sendo traficadas para promover o enriquecimento de outros indivíduos.
Estudos da Organização Mundial do Trabalho (OMT) apontam que o tráfico humano movimenta cerca de 32 bilhões de dólares por ano. Dentre as vítimas, 79% são exploradas sexualmente, sendo as demais destinadas ao comércio de órgãos e à exploração em condições análogas à escravidão em latifúndios, na pecuária, em oficinas de costura e na construção civil.
Os grupos envolvidos no recrutamento de mulheres geralmente buscam vítimas em situação de maior vulnerabilidade, residentes em áreas periféricas com pouco acesso à informação. Os aliciadores — homens e mulheres de boa aparência, com poder aquisitivo elevado e nível educacional avançado — aproximam-se das vítimas muitas vezes por meio de parentes e amigos, oferecendo promessas de melhores condições de vida, trabalho no exterior, prostituição lucrativa ou até casamento com estrangeiros.
Muitas pessoas são capturadas por redes de tráfico nacional e internacional a partir dessas propostas enganosas. Algumas têm ciência dos riscos ou desconfiam das promessas; outras, por sua vez, sabem parcialmente o que as espera. Ainda assim, tais situações configuram, de forma inequívoca, o crime de tráfico de pessoas.
Após receberem bolsas para um curso de inglês no exterior, três brasileiras tornaram-se vítimas de um lucrativo mercado de tráfico humano que, segundo a ONU, afeta 2,5 milhões de pessoas anualmente. “Venderam-me um sonho que virou pesadelo”, afirma uma das brasileiras, ainda em recuperação de uma sequência de abusos vividos no submundo da capital inglesa. Seus passaportes, documentos e dinheiro foram confiscados na chegada. O contato com parentes era proibido, os passos eram monitorados por celular e câmeras escondidas, e ameaças de divulgação de vídeos íntimos eram constantes. As mulheres eram forçadas a atender entre 15 e 20 clientes por dia.
A internet revolucionou a forma de comunicação, negócios e relacionamentos, mas também se tornou uma ferramenta poderosa nas mãos de traficantes. Desde o aliciamento e controle das vítimas até a “divulgação” de serviços sexuais, o ambiente digital é hoje um canal estratégico dessas organizações criminosas.
Nesse contexto, os brasileiros Phelipe de Moura Ferreira e Luckas Viana dos Santos aceitaram uma proposta de trabalho recebida via Telegram e foram mantidos reféns por três meses em Mianmar, forçados a atuar em uma “fábrica de golpes cibernéticos”. Monitorados e punidos com agressões físicas, eram obrigados a se passar por modelos chinesas pedindo dinheiro a brasileiros. Com ajuda do Ministério das Relações Exteriores, do Itamaraty e da ONG Exodus Road, conseguiram fugir e retornar ao Brasil.
A tecnologia, no entanto, também ajudou o médico João Mallmann, de 28 anos, a desvendar sua verdadeira origem. Ao tentar obter a cidadania portuguesa, descobriu que seu registro de nascimento era falso e que fora vítima de uma adoção ilegal. Com vídeos no TikTok, mobilizou seguidores e recebeu ajuda para encontrar seus pais biológicos. Sua mãe, em situação extrema, fora convencida por profissionais de saúde a entregar o filho a um casal rico, sem qualquer processo legal. Hoje, João é ativista contra a adoção ilegal e denuncia redes criminosas que exploram a vulnerabilidade de mulheres em situação de pobreza.
Outro caso emblemático envolveu quatro jovens catarinenses, de 18 a 21 anos, contratadas por uma agência de modelos em São Paulo para trabalhar em um cruzeiro. Ao embarcarem, foram privadas de comunicação e submetidas a vigilância constante. Graças ao contato de uma das vítimas com a família, a Polícia Federal interceptou o navio em Angra dos Reis e prendeu o suspeito.
Em 2022, foi registrado o caso mais duradouro de exploração contemporânea no Brasil desde a criação da estrutura nacional de fiscalização do trabalho, em 1995. Uma senhora negra foi resgatada após passar 72 anos em situação de trabalho doméstico análogo à escravidão, servindo a três gerações de uma mesma família no Rio de Janeiro. Ainda criança, fora entregue pela mãe a uma família com melhores condições financeiras, sob a promessa de estudo e cuidado.
Nestes 20 anos desde a assinatura do Protocolo de Palermo, algumas constatações se consolidaram no Brasil: a principal finalidade do tráfico interno é a exploração laboral; a vulnerabilidade socioeconômica é fator determinante para o aliciamento de vítimas; e a internet transformou radicalmente o modus operandi desse crime.
Por isso, mais do que necessário, é imperativo debater o tráfico de pessoas, especialmente frente à vulnerabilidade do Litoral Norte, região atravessada por rotas conhecidas como o Porto de São Sebastião e a Rodovia Presidente Dutra. Uma política pública de enfrentamento eficaz deve articular diferentes setores, promovendo uma abordagem multidimensional e intersetorial, com participação das instituições públicas e movimentos sociais. As prefeituras das quatro cidades do Litoral Norte devem trabalhar de forma integrada na formulação de políticas públicas, capacitação de profissionais e na atuação da rede socioassistencial para prevenir e proteger as vítimas, além de responsabilizar os autores.
A Prefeitura de São Sebastião publicou, em 11 de outubro de 2024, o decreto que instituiu o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP), em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública. O Núcleo seria vinculado à Secretaria Nacional de Justiça, via Acordo de Cooperação Técnica com o ministério, então sob gestão do ministro Ricardo Lewandowski. Contudo, a proposta nunca foi efetivamente implementada, deixando uma lacuna importante desde a extinção do Comitê Interinstitucional de Combate ao Tráfico de Pessoas do Governo do Estado de São Paulo.
O desaparecimento de jovens e mulheres em todo o país continua a causar dor e incerteza para inúmeras famílias. O NETP tem por missão articular, estruturar e consolidar uma rede de referência para atendimento das vítimas, a partir dos serviços já existentes.
Diante da gravidade e da complexidade do tráfico de pessoas, é urgente que os entes federativos – União, estados e municípios – assumam sua responsabilidade constitucional, destinando recursos e pessoal qualificado para implementar políticas públicas eficazes de prevenção, repressão e acolhimento. É necessário, também, que a sociedade civil, as universidades, o sistema de justiça, os meios de comunicação e o setor privado se engajem de forma ativa e colaborativa nesse enfrentamento. Somente com ações coordenadas, intersetoriais e contínuas será possível romper o ciclo de aliciamento, exploração e impunidade que ainda persiste em pleno século XXI. O tempo da omissão acabou. É hora de agir.


Camila Aquino dos Santos

Fontes:
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/trafico-de-pessoas/Dados%20e%20estatisticas/dados-e-estatisticas

https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/trafico-de-pessoas/publicacoes/artigos/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_humanos.pdf

Forçadas a fazer ’15 a 20 programas por dia’, brasileiras são resgatadas de rede de exploração em Londres
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58364082

Jovens escravizados em Mianmar eram obrigados a dar golpes pela internet em brasileiros
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/02/18/jovens-escravizados-em-mianmar-eram-obrigados-a-atrair-vitimas-no-brasil-em-golpe-na-internet-me-passava-por-modelo-mas-brasileiro-era-dificil-de-enganar.ghtml

‘Fui adotado ilegalmente e achei família biológica com a ajuda do TikTok’
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/12/21/descobri-que-fui-adotado-ilegalmente-e-encontrei-meus-pais-com-o-tiktok.htm?cmpid=copiaecola

Quatro jovens são resgatadas de cruzeiro pela PF no RJ suspeitas de serem vítimas de exploração sexual https://jovempan.com.br/noticias/brasil/quatro-jovens-sao-resgatadas-de-cruzeiro-pela-pf-no-rj-suspeitas-de-serem-vitimas-de-exploracao-sexual.html
Mulher é resgatada após 72 anos de trabalho escravo doméstico no Rio
https://reporterbrasil.org.br/2022/05/mulher-e-resgatada-apos-72-anos-de-trabalho-escravo-domestico-no-rio/

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Turismo além do óbvio: o poder transformador do pertencimento https://alcatrazes.com/turismo-alem-do-obvio-o-poder-transformador-do-pertencimento/ https://alcatrazes.com/turismo-alem-do-obvio-o-poder-transformador-do-pertencimento/#respond Thu, 08 May 2025 18:31:15 +0000 https://alcatrazes.com/?p=270 Quando falamos em turismo, muitos ainda pensam apenas em belas paisagens, hotéis confortáveis e eventos grandiosos. Mas quem vive o turismo de verdade — como eu, há mais de 15 anos — sabe que ele é muito mais do que isso. O turismo é uma ferramenta potente de transformação social, econômica e cultural, e precisa ser enxergado como tal.

O Turismo de Base Comunitária (TBC) é uma das formas mais belas e efetivas de transformar realidades locais. Ele valoriza o conhecimento tradicional, fortalece identidades e promove uma distribuição mais justa da renda. Mas, para isso acontecer de forma duradoura, é essencial envolver a comunidade local desde o início. Não se faz turismo sem as pessoas. Elas precisam estar no centro — sendo ouvidas, capacitadas e reconhecidas.

Ao longo da minha trajetória, vi de perto como o turismo impacta não só hotéis e restaurantes, mas toda uma cadeia econômica. A construção civil, por exemplo — que é um dos maiores empregadores do país — se beneficia diretamente do crescimento do turismo, seja com reformas de pousadas, ampliação de infraestrutura urbana ou obras em atrativos turísticos. Quando um destino se desenvolve, todo o entorno cresce junto.

Mas isso não acontece por acaso. É preciso que o poder público faça sua parte. Criar políticas de incentivo ao empreendedorismo, reduzir a burocracia e os impostos para novos negócios, facilitar o acesso a crédito e promover capacitações técnicas são caminhos fundamentais para que pequenos e médios empreendedores possam florescer. E, claro, ouvir o trade turístico local — os empresários, os guias, os artesãos — é imprescindível para tomar decisões acertadas.

E quando se fala em internacionalização de um destino, então é preciso sair da caixinha. Não se trata de copiar fórmulas prontas achando que elas vão funcionar em qualquer lugar. Cada território tem sua alma — e é ela que deve brilhar. O turista de hoje quer mais do que sol, mar ou montanha. Ele quer histórias, cultura, conexões reais. Ele quer ouvir sobre a D. Maria, filha de pescadores, que ainda hoje prepara seu peixe seco no varal da vila. Ou conhecer o Seu João, que há anos plantava café, mas descobriu que as uvas se adaptaram melhor ao seu solo e hoje produz seu próprio vinho artesanal brasileiro. Esse é o tipo de experiência que emociona, que marca, que fideliza.

Fazer eventos é importante, sim. Eles movimentam a economia local, atraem visitantes, geram mídia espontânea e criam oportunidades de divulgação do destino. Mas é preciso compreender que eventos são uma ferramenta, não o objetivo final. Muitos destinos caem na armadilha de apostar todas as fichas em festivais sazonais, sem criar uma estratégia de turismo que funcione durante o ano todo. O turismo precisa ser pensado como política pública permanente, não como ação pontual ou calendário festivo.

Eventos devem ser planejados como parte de um ecossistema turístico mais robusto, onde cada ação impulsiona outras: a qualificação profissional, o fortalecimento do comércio local, a valorização da cultura regional, o desenvolvimento de novos produtos turísticos. Um bom evento pode ser o ponto de partida para que mais pessoas conheçam a cidade — mas é o conteúdo, a história, a vivência autêntica que as fará voltar.

Mais do que grandes shows e estruturas temporárias, o que realmente encanta o visitante é participar de um Festa tradicional, provar uma receita local feita com afeto, ouvir um morador contar como era o bairro antes da estrada chegar. Isso é o turismo além do óbvio.

O Turismo pode ser agente para melhorar inclusive a segurança pública. Você prefere passar numa praça ainda que bem cuidada mas absolutamente vazia a noite ou prefere que essa praça tenha espaço para que comerciantes tenham seus cafés funcionando, um restaurante que ocupe com suas mesas e serviço de qualidade este espaço? Temos mania de achar que praça é de responsabilidade exclusiva da Prefeitura mas e se dividirmos as reponsabilidades, criando regras claras de utilização, padronização de móveis, contrapartida de limpeza e segurança será que não teríamos espaços menos hostis e mais amigáveis a se frequentar? Os eventos, os espaços públicos devem ser usados para fomentar pertencimento, celebrar raízes e criar vínculos duradouros — tanto com os moradores quanto com os visitantes.

Por isso, é fundamental que exista alinhamento entre o comércio local, o visitante, o morador e o Poder Público, somente assim um destino realmente se desenvolve.

O turismo precisa ser uma estratégia de longo prazo para desenvolver territórios de forma sustentável, gerando oportunidades e ampliando horizontes. Ele é um instrumento de cidadania, de pertencimento, de resgate cultural. É muito mais sobre pessoas e vivências do que apenas sobre um destino e suas paisagens.

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Porto de São Sebastião, uma retrospectiva com perspectivas https://alcatrazes.com/porto-de-sao-sebastiaouma-retrospectiva-com-perspectivas/ https://alcatrazes.com/porto-de-sao-sebastiaouma-retrospectiva-com-perspectivas/#respond Sun, 06 Apr 2025 13:28:50 +0000 https://alcatrazes.com/?p=240

Conforme eram as escritas dos antigos textos europeus, “no dia 20 de janeiro do ano de Jesus Cristo de 1502”, passava por nosso canal uma pequena flotilha de navios portugueses, comandada pelo Capitão Gonçalo Coelho, trazendo a bordo um importante cartógrafo e navegador chamado Américo Vespúcio, que ao jogarem suas âncoras batizaram o acidente geográfico a sua frente de Ilha de São Sebastião, por ser esse o Santo do dia.
A missão dessa esquadra era de pesquisar a geografia da costa brasileira recém descoberta e assim iniciar as ações de posse do novo território da Coroa Portuguesa.
Com essa ação de levantamento cartográfico, a Coroa teria informações precisas para se estabelecer e povoar, além de obter informações estratégicas para sua frota navegar e ancorar com segurança.
Eram informações cruciais para a Coroa e foi nesse dia, com esse primeiro mapa da nossa Costa Brasileira que nasce o nome “Porto de São Sebastião”, assim batizado pelo então navegador, como informação militar e estratégica para que outros navegadores da coroa portuguesa soubessem que aqui haveria abrigo e boas condições para seus navios e tripulações.
Esse navegador, cartógrafo e aventureiro do século XVI que por aqui passou, futuramente, emprestaria seu nome ao novo continente, que hoje chamamos de América.


Mas é em 1935 que nasce o Porto de São Sebastião na configuração em que se encontra, quando as primeiras obras iniciam o caminho para uma nova saída às exportações do nosso país, naqueles tempos com foco na produção cafeeira e de arroz do nosso Vale do Paraíba.
Juntamente com o Porto, alguns anos antes, em 1932, iniciam-se as obras da estrada de acesso, a Tamoios.
Obras que nascem das mentes brilhantes de dois grandes homens de alma caiçara e de elevado espírito cívico, a construção do Porto por meio de Dr. Manoel Hipólito do Rego, nosso primeiro deputado Estadual e o único Deputado Federal eleito por nosso povo e a Estrada pelo brilhante e valente Coronel da Força Pública do Estado de São Paulo, Edgar Armond.
Dizem que a história desses dois homens se une em uma viagem de barco de Santos para São Sebastião, quando tiveram a oportunidade de debater as oportunidades da nossa região e da nossa cidade de São Sebastião.
Foi quando então entenderam sobre a importância de se aproveitar as condições geográficas, bem como da necessidade de levarem algum desenvolvimento para o povo do Litoral Norte Paulista, região que ambos amavam, nascendo nessa viagem a ideia da construção do Porto de São Sebastião e da Estrada Tamoios.
A peculiaridade da Estrada é que a sua construção se inicia com alguns pouco soldados da Força Pública do Estado de São Paulo, sob o comando do Coronel Armond nos idos de 1.932, interrompida em 09 de julho daquele ano, por conta da Revolução Constitucionalista, só retornando a obra após o término da Guerra de São Paulo contra as forças Federais.
Assim, nasceu o Porto de São Sebastião e a Estrada Tamoios, cujo nome dela se dá como uma justa homenagem à Confederação das Tribos Tupinambás, que se unem em uma luta de resistência por seu território contra as forças invasoras dos Portugueses associados aos povos Tupiniquins, esses, inimigos naturais daqueles.
Contudo, apesar do sucesso da obra e de todo empreendimento para a sua época e do impacto positivo que causou na cidade e a toda região, revelando as belezas naturais do Litoral Norte, o que iniciou um ciclo turístico, além de portuário, mas que passados 88 anos do início das obras portuárias, verdade é que o Porto de São Sebastião, está como outrora, em seu formato inicial, com apenas um berço curto e com calado raso, suficiente para sua época, mas aquém para os modernos e grandes navios de hoje.
Por outro lado, foi por conta da existência desse Porto que nos anos 60 a Petrobras se instalou por aqui, trazendo uma nova era de desenvolvimento para a cidade e região, abrindo espaço para mais trabalho, renda e receita.
A instalação da Petrobras aqui em nosso Canal de São Sebastião ou Canal de Toque-Toque, como registram as cartas náuticas, se dá pela necessidade de termos condições de recebermos navios maiores e com maior calado, condições inexistentes em outros locais da costa brasileira.
Sua instalação advém da época em que os egípcios fecharam o Canal de Suez, obrigando os armadores de todo o mundo a darem uma volta na África, para buscarem petróleo no Oriente Médio e outras mercadorias no extremo Oriente.
Essa situação obrigou a indústria naval a construir navios maiores para que pudessem reduzir os fretes marítimos e otimizar suas viagens mais longas.
Foi quando a Petrobras precisava de algum lugar onde esses grandes petroleiros pudessem atracar e desembarcar suas mercadorias, sendo o Canal de São Sebastião o melhor local na costa brasileira para esse novo terminal.
O Canal de São Sebastião tem características únicas, apresentando uma poligonal de Porto organizado diferenciada de qualquer outro, tendo 30 km de extensão, com 500 metros de largura, com uma profundidade média de 25 metros, com duas entradas marítimas, ou seja, não estuarinas, com zero por cento de sedimentação, tendo ao norte uma entrada natural com 18 metros de profundidade e ao sul com 25 metros, numa variação de tábua de maré de apenas 1 metro, condições ímpares perante os Portos brasileiros.
Porém, esse potencial de navegabilidade e segurança para a entrada e saída de grandes navios somente a Petrobras faz uso, posto que nas concepções portuárias do início do Século XX, quando o Porto de São Sebastião foi construído, o aproveitamento de tais condições naturais não foram feitas, nos mantendo à margem das principais rotas comerciais marítimas.
Assim, o Porto de São Sebastião chega ao Século XXI da mesma forma como fora concebido no início do Século XX, ainda distante do seu potencial de uso para o bem do Brasil.
No entanto, atualmente o Porto pulsa com força máxima, batendo recordes anuais de movimentação de cargas e receitas, mas com suas limitações de infraestruturas físicas está fadado a estagnação, caso algo não seja feito.
Contudo, na última década, o governo Paulista investiu severamente na intenção de dar melhores condições para o desenvolvimento do Porto de São Sebastião, criou a Companhia Docas, dispôs de bons profissionais do mercado portuário e logístico do país, que implementaram o PDZ do Porto, criaram uma modelagem de ampliação do setor portuário, ao passo que o governo iniciava uma grande obra de duplicação da Tamoios, dando vazão ao que seria o novo Porto ampliado.
Infelizmente, os planos de ampliação do Porto foram frustrados por uma ação do Ministério Público Federal e Estadual, travando seu licenciamento prévio, porém a Estrada teve continuidade e hoje, após R$ 7.500.000.000,00 (Sete bilhões e quinhentos milhões de reais) investidos até aqui, já alcança as portas do Porto de São Sebastião, mas sem que o Porto pudesse ter um metro de avanço em sua área de berço.
Essa é uma situação que não pode perdurar, sob pena de desperdício dos investimentos públicos e das condições naturais que o Porto oferece à economia do país e ao desenvolvimento do setor portuário brasileiro.
Razão pela qual a comunidade portuária, iniciou uma mobilização, organizando-se no sentido de levar aos poderes constituídos uma possível alternativa de engenharia para a ampliação do Porto, respeitando as características ambientais da região, sua comunidade caiçara da planície marítima do Araçá, com condições de ser aceita pela sociedade e sem obstáculos jurídicos para a sua implementação.
Isso levou a comunidade Portuária de São Sebastião a se reunir com o Ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, bem como com seu Secretário Nacional dos Portos, Fabrizio Pierdomenico. Nessa reunião foi entregue uma Carta, na qual se descreve as razões de agir para a ampliação do Porto Paulista, anexando à Carta 8 documentos produzidos nos últimos
dez anos, que perfazem um arcabouço de inteligência estratégica sobre como colocar o Porto de São Sebastião nas condições de atender em alto nível as necessidades econômicas e logísticas do Brasil.
Ao que se sabe essa reunião com nosso Ministro surtiu efeitos positivos, membros da equipe técnica da Secretaria dos Portos, acompanhados dos técnicos do BNDES se reuniram com a equipe da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, onde pontos sobre o desenvolvimento do Porto foram abordados, iniciando uma construção de ideias de como e quando fazer a ampliação do Porto de São Sebastião.
Não obstante essa bela ação tomada pelo setor portuário de São Sebastião, as ações não podem parar por aí e algo mais deve ser feito, sob pena de perdermos o “timing” da história e mais uma vez ficarmos à deriva do nosso próprio destino.
Assim, a comunidade portuária, envolvendo o setor sindical, o setor empresarial de todas as áreas econômicas do meio portuário, autoridades intervenientes do setor, autoridades locais e regionais devem se unir e não esperar que outros decidam pelo nosso destino, é a hora de fazer acontecer!!!
É hora de unir a Região do Vale do Paraíba, empresários do setor de produção, logística, prefeituras e representantes da Região na Alesp e Congresso Nacional e com essa força única desenvolver e construir as pontes do diálogo, unir os elos das ideias para o desenvolvimento do Estado de São Paulo e do Brasil.
A união de forças locais nos levará a condição de mais berços, atendendo à demanda exigida pelo nosso Porto, que hoje já vê a fila de navios crescerem ao largo, aguardando sua hora de atracação, sendo que os espaços terrestres existentes são disputados à unha entre os “players” locais, ou seja, não há mais tempo a esperar, quem sabe faz a hora, não espera acontecer!

São Sebastião, 06 de agosto de 2.023

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Fake News é um fenômeno social não é mentira e também não é fofoca. Sabe a diferença?

Mentira é quando você inventa uma história e conta como se fosse verdade, quando alude um comportamento ou ação a outrem. De acordo com o Michaelis é “1 Ato ou efeito de mentir; cantiga, fraude, pomada; 2 Afirmação que se opõe à verdade; informação enganosa ou controvertida; enredo, moca 3 Costume ou hábito de contar mentiras; 4 Aquilo que dá falsa ideia; 5 O que ilude; 6 Opinião sem fundamento.”

Para Platão há dois os tipos de mentira, uma útil, justificada moralmente, como quando o médico não desacredita o paciente terminal, e outra, a mentira autêntica, condenada e detestada pelos deuses e homens.

Maquiavel também trata da mentira em seu livro “O príncipe”, para ele, a mentira é uma das muitas opções disponíveis para um governador administrar ou conquistar, sem levantar nenhuma questão ética, Maquiavel entende a mentira como mais um instrumento político.

Um exemplo de mentira atual foi o famigerado caso das mamadeiras com bico em formato de pênis. Um vídeo viralizou na internet mostrando esta mamadeira e alegando que estavam sendo distribuídas em escolas e creches de São Paulo, por ordem do PT e do Haddad, e que, para combater isto era necessário votar em Jair Bolsonaro. Além de ser mentira, era um fato nonsense que em situações normais dificilmente encontraria eco. Porém, não só encontrou eco, como serviu de base para muita discussão política na época, simplesmente porque muitas pessoas acreditavam!

Se fossemos analisar o caso da mamadeira erótica pela ótica de Maquiavel, aceitaríamos que na disputa política vale tudo e, colocando a ética para bem longe, poderíamos alegar que foi legítimo usar de mentiras para chegar à presidência e salvar o Brasil do comunismo.

Agora, sob a ótica de Platão, se você tem algum apreço e comprometimento com a ética, república e democracia, você combateria outra visão politica com honra e honestidade, nunca com mentiras. Pautar sua argumentação em mentiras é saber, no íntimo, que você está errado ou sendo motivado por interesses pouco republicanos.

E a fofoca?

Pelo dicionário Michaelis fofoca é definida como “ 1 Ato ou efeito de fofocar; futrica, fuxico, intriga; 2 Comentário desairoso ou maldoso sobre a vida de outrem; bisbilhotice, dito, mexerico; 3 Afirmação ou imputação baseada em suposições; boato, especulação; 4 Cochicho ou comentário em segredo sobre alguém: Já surpreendi as duas mais de uma vez fazendo fofoca sobre o professor.”

Antes que você desmereça a fofoca ou o fofoqueiro, é importante saber que a fofoca foi um importante instrumento para construímos nossa sociedade. Parece dramático, mas a ideia é defendida pelo escritor e historiador Yuval Noah Harari em “Sapiens”.

Yuval afirma que a fofoca foi um dos fatores primordiais para a nossa evolução social, necessária para todas as outras evoluções que a seguiram. “Nossa linguagem singular evoluiu como um meio de partilhar informações sobre o mundo. Mas as informações mais importantes que precisavam ser comunicadas eram sobre humanos, e não sobre leões ou bisões. Nossa linguagem evoluiu como uma forma de fofoca. De acordo com essa teoria, o Homo sapiens é antes de mais nada um animal social. A cooperação social é essencial para a sobrevivência e a reprodução. Não é suficiente que homens e mulheres conheçam o paradeiro de leões e bisões. É muito mais importante para eles saber quem em seu bando odeia quem, quem está dormindo com quem, quem é honesto e quem é trapaceiro”, explica.

A fofoca é responsável por criação de redes de apoio, no livro “O príncipe” Maquiavel orienta que a forma mais rápida de fazer um amigo e criar laços é ter um inimigo em comum, ou seja, fofocar. O fofoqueiro é uma referência para o seu grupo, uma espécie de “influencer”, aquele que sabe de tudo antes, funcionando como referência e conselheiro social para os mais inseguros.

Tudo ótimo, mas não dá para esquecer o lado tóxico da fofoca, movida pela inveja, ou ainda como autoafirmação. Pode até começar com informações reais, mas na medida que percorre o grupo, novas informações vão sendo incorporadas e fatos deixados para trás, bem ao gosto do freguês.

A fofoca também tem grande utilidade na política, é um sinal indicando para onde vão os ventos. Serve para antecipar eventos que coloque em risco a estabilidade de uma pessoa ou um grupo.

Voltando para o caso das mamadeiras eróticas, milhares de pessoas compartilharam os vídeos em suas redes sociais e a cada compartilhamento, um novo fato ou depoimento de veracidade eram acrescentados. De repente, uma mamadeira que nunca foi distribuída, era a grande notícia da mídia, com depoimentos e testemunhos!

E Fake News?

Para entender a Fake News é necessário entender nosso momento atual. Não é mais o fato que determina o rumo do debate, mas a interpretação pessoal de cada um sobre os fatos. Este fenômeno foi denominado como Pós verdade. Não importa mais se o copo está meio cheio ou meio vazio, importa o que eu acho. Se eu vejo o copo meio vazio, então o copo está meio vazio! Não há argumentos que façam eu mudar meu ponto de vista, até mesmo quando vc diz q o copo está meio cheio, apenas serve de reforço positivo para a minha teoria de meio vazio.

Quer um exemplo? Transposição do Rio São Francisco. De um lado, imagens da parte feita da obra, população satisfeita, números e depoimentos indicando um futuro promissor, resoluções e felicidade. Do outro lado, atrasos, pontos da obra que deram problemas, sofrimento da população, impactos negativos.

Em ambos os casos, estão falando a verdade. Sim, a transposição foi feita em alguns trechos e muitas pessoas estão felizes e em outros trechos houve atraso, prejuízos e muitas pessoas estão infelizes. Então o que determina o que é verdade ou o que é notícia? Eu!

Se eu sou contra a transposição irei me municiar com dados que corroborem a minha tese, a decisão do que é verdade foi deliberada antes de eu ter acesso aos fatos. Participarei de grupos com pessoas que também decidiram ser contra a transposição antes de terem acesso às informações e neste ambiente virtual, compartilharemos números e informações que fortalecerão a nossa tese, o mesmo se passa com quem é a favor. Os favoráveis a transposição, também farão parte de grupos e compartilharão informações que atestem sua tese favorável.

E neste movimento de buscar elementos que corroborem com a tese escolhida, diversas informações e dados vão sendo deixados de lado. É neste momento que as pessoas compartilham noticias antigas como se fossem atuais ou depoimentos de pessoas famosas que nunca foram feitos.

A pessoa afirma feliz: O presidente é honesto e vai acabar com a corrupção! Mas faz vistas grossas para doações de campanhas suspeitas, movimentação bancária do assessor Queiroz, até mesmo para depósitos na conta da primeira dama, porque estas informações vão contra a pós verdade escolhida. A racionalidade perde para a emoção.

Nesta sanha de “vencer o debate” e provar que a minha teoria é a melhor interpretação da realidade, algumas pessoas lançam mão de checar a verdade, elas precisam dar voz a indignação que sentem, não importa como.

Uma pessoa que compartilha o vídeo da mamadeira erótica, só acredita porque, antes de ter contato com a notícia, ela já tinha cristalizado uma opinião sobre sexualidade, governo e limites do estado. E esta opinião cristalizada, provavelmente, foi pautada em outras mentiras e fofocas.

O vídeo da mamadeira erótica vai de encontro as suas expectativas, é uma resposta do mundo para o que ela intuía. As Fake News surgem muito mais na crença do que na mentira, no caso das mamadeiras eróticas: “Eu compartilhei porque eu acredito, não importa se aconteceu ou não”

*texto publicado inicialmente na revista “pimenta report”

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A sociedade pulsa e vibra.

Muitas das vezes através de antagonismos e choques, são poucos os consensos para os nossos infinitos problemas.

Nosso desafio era criar um espaço para o debate, dar voz a diferentes pontos de vista. Em tempos de internet e redes sociais as notícias chegam initerruptamente, é preciso respirar e destrinchar os acontecimentos diários, digerir as informações, entender suas implicações e impactos.

Levamos anos para construir Alcatrazes, um site que pretende ser uma ilha em meio a tantas brigas. O espaço é livre para o debate, mas entendemos que a liberdade de expressão é um bem precioso que não permite discurso de ódio, agressão ou anonimato.

Seja bem-vindo!

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