Quando falamos em turismo, muitos ainda pensam apenas em belas paisagens, hotéis confortáveis e eventos grandiosos. Mas quem vive o turismo de verdade — como eu, há mais de 15 anos — sabe que ele é muito mais do que isso. O turismo é uma ferramenta potente de transformação social, econômica e cultural, e precisa ser enxergado como tal.
O Turismo de Base Comunitária (TBC) é uma das formas mais belas e efetivas de transformar realidades locais. Ele valoriza o conhecimento tradicional, fortalece identidades e promove uma distribuição mais justa da renda. Mas, para isso acontecer de forma duradoura, é essencial envolver a comunidade local desde o início. Não se faz turismo sem as pessoas. Elas precisam estar no centro — sendo ouvidas, capacitadas e reconhecidas.
Ao longo da minha trajetória, vi de perto como o turismo impacta não só hotéis e restaurantes, mas toda uma cadeia econômica. A construção civil, por exemplo — que é um dos maiores empregadores do país — se beneficia diretamente do crescimento do turismo, seja com reformas de pousadas, ampliação de infraestrutura urbana ou obras em atrativos turísticos. Quando um destino se desenvolve, todo o entorno cresce junto.
Mas isso não acontece por acaso. É preciso que o poder público faça sua parte. Criar políticas de incentivo ao empreendedorismo, reduzir a burocracia e os impostos para novos negócios, facilitar o acesso a crédito e promover capacitações técnicas são caminhos fundamentais para que pequenos e médios empreendedores possam florescer. E, claro, ouvir o trade turístico local — os empresários, os guias, os artesãos — é imprescindível para tomar decisões acertadas.
E quando se fala em internacionalização de um destino, então é preciso sair da caixinha. Não se trata de copiar fórmulas prontas achando que elas vão funcionar em qualquer lugar. Cada território tem sua alma — e é ela que deve brilhar. O turista de hoje quer mais do que sol, mar ou montanha. Ele quer histórias, cultura, conexões reais. Ele quer ouvir sobre a D. Maria, filha de pescadores, que ainda hoje prepara seu peixe seco no varal da vila. Ou conhecer o Seu João, que há anos plantava café, mas descobriu que as uvas se adaptaram melhor ao seu solo e hoje produz seu próprio vinho artesanal brasileiro. Esse é o tipo de experiência que emociona, que marca, que fideliza.
Fazer eventos é importante, sim. Eles movimentam a economia local, atraem visitantes, geram mídia espontânea e criam oportunidades de divulgação do destino. Mas é preciso compreender que eventos são uma ferramenta, não o objetivo final. Muitos destinos caem na armadilha de apostar todas as fichas em festivais sazonais, sem criar uma estratégia de turismo que funcione durante o ano todo. O turismo precisa ser pensado como política pública permanente, não como ação pontual ou calendário festivo.
Eventos devem ser planejados como parte de um ecossistema turístico mais robusto, onde cada ação impulsiona outras: a qualificação profissional, o fortalecimento do comércio local, a valorização da cultura regional, o desenvolvimento de novos produtos turísticos. Um bom evento pode ser o ponto de partida para que mais pessoas conheçam a cidade — mas é o conteúdo, a história, a vivência autêntica que as fará voltar.
Mais do que grandes shows e estruturas temporárias, o que realmente encanta o visitante é participar de um Festa tradicional, provar uma receita local feita com afeto, ouvir um morador contar como era o bairro antes da estrada chegar. Isso é o turismo além do óbvio.
O Turismo pode ser agente para melhorar inclusive a segurança pública. Você prefere passar numa praça ainda que bem cuidada mas absolutamente vazia a noite ou prefere que essa praça tenha espaço para que comerciantes tenham seus cafés funcionando, um restaurante que ocupe com suas mesas e serviço de qualidade este espaço? Temos mania de achar que praça é de responsabilidade exclusiva da Prefeitura mas e se dividirmos as reponsabilidades, criando regras claras de utilização, padronização de móveis, contrapartida de limpeza e segurança será que não teríamos espaços menos hostis e mais amigáveis a se frequentar? Os eventos, os espaços públicos devem ser usados para fomentar pertencimento, celebrar raízes e criar vínculos duradouros — tanto com os moradores quanto com os visitantes.
Por isso, é fundamental que exista alinhamento entre o comércio local, o visitante, o morador e o Poder Público, somente assim um destino realmente se desenvolve.
O turismo precisa ser uma estratégia de longo prazo para desenvolver territórios de forma sustentável, gerando oportunidades e ampliando horizontes. Ele é um instrumento de cidadania, de pertencimento, de resgate cultural. É muito mais sobre pessoas e vivências do que apenas sobre um destino e suas paisagens.
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